quinta-feira, 12 de outubro de 2017

# Autorais

Muros


 "Muitos homens devem a grandeza da sua vida aos obstáculos que tiveram que vencer."
- C. H. Spurgeon



  Em certo sábado, cujo trabalhei o dia inteiro, o fim do expediente foi a melhor parte daquele dia totalmente cansativo e estressante. O que me manteve de pé? Foi a certeza de que logo estaria em meu lar. Ao sair, descendo pela rua, com o sol se pondo, o meu corpo estava pesado, minha mente cansada e meus olhos mal viam o caminho que seguia, no entanto minha alma manteve a esperança de estar deitada, descansando e comendo em breve. 

  Após aproximadamente 30 minutos cheguei na minha casa, já era noite e a rua estava deserta. Ansiosa toquei a campainha uma, duas, três vezes e não obtive resposta. Não havia nenhuma pessoa em casa, respirei fundo, e peguei minha chave dentro da bolsa, olhei as pequenas chaves misturadas e não identifiquei nenhuma que fosse do portão, mantendo a calma comecei a testar uma a uma repetidas vezes e nada. 

  Peguei meu celular na esperança de falar com alguém, mas minhas ligações não foram atendidas e minha bateria havia se esgotado desligando o celular. Escorei no portão e fiquei olhando o céu vazio, logo, notei que estava sozinha em uma rua sem movimento numa cidade violenta, cheia de assaltos, roubos e outros crimes horríveis. O medo começou a me alertar de que estar ali não era uma boa ideia. 

  Mas para onde iria? Perguntei a mim mesma, a resposta foi o silêncio da noite que me envolvia. O que faria? Olhei para trás e respondi "pularei o muro" ri, nunca havia pulado um muro na minha vida. Sou tão pequena e esse muro é enorme. Nunca fiz isso, posso cair, me machucar e quem iria me ajudar?!

  Vários argumentos tentavam rebater a minha ideia de pular o muro, mas nenhum deles traziam uma solução melhor para o meu estado atual. Respirei e fiquei parada alguns minutos olhando para o muro. Tomei coragem e comecei a subi-lo, não sei descrever como eu fiz aquilo, mas eu consegui chegar ao topo dele, ofegante e com os joelhos ralados.

  Havia conseguido! Eu nunca fiz aquilo, parecia tão difícil, impossível, mas lá estava eu, sentada olhando a lua. Naquele momento eu tentei me acalmar, estava ofegante e muito feliz e comecei a refletir sobre algumas coisas na minha vida. 

  Quantas vezes eu deixei de tentar algo por medo, por nunca ter feito ou por duvidar das minhas capacidades? Quantos muros eu deixei de subir por me considerar pequena, por estar só, por medo ou por nunca ter feito antes? 

  Era um muro enorme, assustador que me desafiou e eu consegui chegar lá, mas na minha vida perdi grandes oportunidades de saber o que me esperava do outro lado por medo de tentar subir. 

  O prêmio que me esperava era um bom banho, segurança, comida e descanso, mas haviam milhares de coisas simples, essenciais, grandes que perdi durante os caminhos que percorri.

  Aqueles pensamentos me faziam companhia sentada ao observar a rua e repentinamente percebi que não tinha acabado, que precisava terminar de pular o muro, olhei para baixo e senti mais medo do que subir, agora faltava tão pouco e me faltava muita coragem. 

 Respirei novamente e me peguei em mais pensamentos; quantos caminhos eu não terminei, não porque não deveria, por me faltar coragem de prosseguir? Quantas oportunidades foram perdidas por minha falta de fé em mim mesma e no meu Senhor? Existem caminhos que deixamos porque entendemos ser necessários e outros simplesmente abandonamos por medo de continuar, de terminar. 

 Lembrei-me de uma frase de Buda em que dizia "A causa da derrota, não está nos obstáculos, ou no rigor das circunstâncias, está na falta de determinação e desistência da própria pessoa." Eu fui derrotada muitas vezes, mas não por muros, obstáculos, por mim, apunhalada por minha covardia e falta de coragem. Comecei a descer o muro. 

 Fiquei dependurada no muro, ralei meus pulsos e até machuquei minha barriga na descida, entretanto eu consegui. Consegui pular o muro. Confesso, dancei muito comemorando. Durante o banho a água gelada escorria por meu corpo fazendo meus arranhados arderem então pensei " Sempre terei machucados durante minhas caminhas para conquistar os meus sonhos e objetivos." 

 Pode parecer algo insignificante e talvez o seja, mas o muro, ter que pular, descer e ver os machucados me fizeram refletir sobre os muros da vida, não são fáceis, muitas vezes grandes, com obstáculos, mas se quisesse chegar ao outro lado teria que estar pronta para enfrentá-los acreditando em mim e seguindo em frente estando preparada para os ferimentos que conseguirei, ter sabedoria ao conquistar o que tanto quis e não criar expectavas sobre o que acharei do outro lado do muro, no fim do caminho. 

 No fim o que encontramos no fim da estrada não se compara com o que aprendemos e vivemos ao longo do caminho. 

4 comentários:

  1. Sou sua fã declarada!Uma analogia tão incrível com uma experiência que para muitos não seria nada. Somos tão acostumados a nos sentirmos pequenos que não percebemos a grandeza de nosso atos.

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  2. Leh, minha linda! Agradeço por seu comentário e pelo seu prestígio que é de grande importância para mim!!! Muito obrigada!

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  3. Linda! Você é espetacular em todos os sentidos!

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  4. Muito bom o texto apontando resiliência.
    Também à frase que se encaixa "Seria cômico se não fosse trágico".. 😅

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